LEOVEGILDO PEREIRA LEAL
Jornalista e professor

Ora, a evidência de que foram, sim, gravemente afetados está exatamente no fato de defenderem o exercício da covardia e da brutalidade contra crianças - aliás, covardia e brutalidade não se justificam contra ninguém.
No campo dessas esfarrapadas justificativas, se alinham outras práticas desgraçadamente vivas no país: espancamento de mulheres, agressões a homossexuais e tortura institucionalizada em todas as delegacias policiais. Com o riso descarado dos torturadores estampado na face, até mesmo grande parte das mães brasileiras vem com a cruel ladainha de que "tapa de amor não dói" e estultices semelhantes para, no fundo, se esquivarem do trabalho de uma educação séria a seus filhos, baseada em métodos minimamente relacionados ao respeito, ao carinho, ao amor.
Outra linha de defesa do espancamento de crianças indefesas é o de que proibir a palmada constitui interferência na vida privada do cidadão - seria invadir o sagrado do lar. A se seguir esse raciocínio, seria o caso de se revogar então a Lei Maria da Penha. Mais, deixaria de constituir crime o assassinato doméstico. Não, esse princípio liberal-escravocrata fere de morte os valores maiores do respeito ao outro, da compaixão e do amor - estes, sim, princípios fundantes de uma vida digna.
E é esse mesmo senso comum/ideologia dominante que hoje se posiciona contra a Lei da Palmada, que, muito justamente, passa a penalizar criminalmente pais que agridem fisicamente seus filhos. Isso mesmo, trata-se de agressão a alguém indefeso, sob total domínio e controle, sem qualquer chance de reação. O que pode ser designado com exatidão como tortura. É tão inconsistente quanto primário o argumento dos defensores da agressão a crianças de que eles mesmos levaram "palmadinhas" sem que fossem afetados psicológica e moralmente por isso.
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